O estádio Ellis Park, em Johannesburgo, recebeu um grande jogo de futebol no dia de hoje. As substituições realizadas por Marcello Lippi no intervalo deram uma face à Azzurra que não foi vista nos outros 135 minutos de Mundial. De quebra, para o bem do espetáculo, coincidiu de a Eslováquia ter conseguido jogar ainda mais do que haviam mostrado em alguns momentos no jogo de estréia e que não se viu diante dos paraguaios. Pior para a Itália, derrotada e eliminada na primeira fase pela primeira vez em sua trajetória tetracampeã. Pela primeira vez na história das Copas, as duas atuais finalistas caem na fase de grupos.O jogo
Para não depender dos acontecimentos de Paraguai e Nova Zelândia, a aritmética para os italianos era simples: vencer ou vencer. Porém, um empate com mais gols do que numa eventual igualdade na outra partida também garantia a classificação para a Itália. A Eslováquia, por sua vez, buscava a vitória que lhe daria a segunda vaga no grupo - nada mais lhe interessava.
Lippi promoveu a estréia de Gennaro Ivan Gattuso e a titularidade de Antonio di Natale - Claudio Marchisio e Alberto Gilardino foram para o banco de suplentes. Pelo lado eslovaco, Vladimir Weiss fez diversas alterações em relação ao time que perdeu para o Paraguai, incluindo as barrações de seu filho xará e do camisa 9 Stanislav Sestak.
Com 25 segundos Di Natale já tentava uma finalização, mas a bola chutada de antes da intermediária saiu por cima. Aos 3 minutos, Giorgio Chiellini lançou do campo de defesa, Vincenzo Iaquinta tabelou com Di Natale e chutou à direita do gol. Também na base do lançamento longo, a Eslováquia respondeu dois minutos depois: Róbert Vittek desviou de cabeça a bola viajada e Marek Hamsik chutou de primeira, da marca do pênalti, mandando à esquerda.
Na marca de 10 minutos, a Itália teve lance de bola parada: Iaquinta e Jan Durica se atracaram na área, o italiano mandou para a rede mas teve o gol corretamente invalidado pela falta que cometera na disputa com o eslovaco. E novamente a resposta vem na mesma moeda: dois minutos depois, levantamento da direita em lance de bola parada, Federico Marchetti afasta e a sobra é chutada por cima.
A seleção eslovaca tinha 60% da posse de bola e não tinha qualquer receio de se lançar ao ataque. Aos 14 minutos, lançamento pela esquerda visando a passagem de Hamsik, que centraliza para Vittek e Marchetti intercepta. Aos 15', Zdeno Strba recebe cartão amarelo do inglês Howard Webb por carrinho duro em Gattuso - o camisa 6 fica automaticamente suspenso da próxima partida.
Com 23 minutos, mais Eslováquia: Martin Skrtel se manda para o ataque, carrega a bola, passa por dois adversários, faz a tabela, arma pro chute e é desarmado na área italiana. No minuto seguinte, Daniele De Rossi sai jogando errado ainda próximo da própria área, Juraj Kucka passa para Vittek e o camisa 11 não desperdiça, chutando no canto direito e fazendo 1a0. Esse resultado, combinado ao 0a0 entre Paraguai e Nova Zelândia, colocava a Eslováquia na segunda colocação do grupo e mandava a Itália para a lanterna da chave.
Aos 34 minutos, Fabio Cannavaro comete falta em Hamsik. Miroslav Stoch rola de lado para Strba que, da intermediária, manda um chute que vai no canto direito - Marchetti espalma. A Itália parecia atordoada no gramado e simplesmente não conseguia desenvolver jogadas que a proporcionasse chances de gol. De fora da área, Riccardo Montolivo recebeu passe de Simone Pepe e chutou à direita, aos 37'. Na marca de 38 minutos, Howard Webb deu cartão amarelo para Vittek por entrada em Cannavaro, mostrando critério duvidoso: por que entrada semelhante de Cannavaro em Hamsik, 4 minutos antes, não rendeu cartão?
Aos 39', a melhor chance italiana na primeira etapa: cruzamento da direita e Skrtel cortou de cabeça mandando a bola rente ao travessão. 3 minutos depois, Gattuso corta a bola e também a perna de Strba, em típico "acidente de trabalho". O camisa 20 Kamil Kopúnek estava pronto para entrar no lugar do machucado Strba, mas, de fora do campo, o camisa 6 disse que queria continuar no jogo e retornou ao campo com o joelho sangrando devidamente enfaixado. A Eslováquia seguia melhor no jogo e teve nova chance aos 47', quando Vittek recebeu e passou atrás para Kucka chutar de primeira à esquerda da meta. Com 48', Di Natale passou a bola da direita para o centro, onde apareceu Montolivo - mas o camisa 22 escorregou e finalizou torto.
A partida que corria simultaneamente no estádio Peter Mokaba seguia 0a0, com o Paraguai não conseguindo mais do que dois chutes de fora da área através de Denis Ramón Caniza Acuña - aos 29' a bola saiu por cima e aos 35' Mark Nelson Paston encaixou. Assim, a situação do intervalo era de Paraguai e Eslováquia avançando e Nova Zelândia e Itália eliminadas.
Com este cenário, Lippi promoveu duas substituições no vestiário: Gattuso por Fabio Quagliarella e Domenico Criscito por Christian Maggio. Desta forma, Maggio assumia a lateral direita e Gianluca Zambrotta era deslocado para o lado esquerdo.
Aos 5 minutos, Pepe cruzou da direita e Iaquinta cabeceou sem levar perigo. Aos 10', Maggio descolou bom passe para Di Natale, que acabou finalizando reto e mandando à esquerda. Pronto: é chegada a hora da 3ª e última troca na Azzurra: sai Montolivo e entra Andrea Pirlo, fazendo a sua estréia na Copa 2010. Estavam em campo os 11 homens que iriam até o apito final buscar a vaga para a próxima fase. Jogadores como Mauro Germán Camoranesi e Alberto Gilardino seriam ilustres espectadores de um drama em tom de azul.
Com 17 minutos, Di Natale, de perto da meia-lua, chuta cruzado e Ján Mucha defende em dois tempos no canto esquerdo. 3 minutos depois, abertura na direita para Pepe, que cruza e Radoslav Zabavník corta. O escanteio é cobrado com passe curto pelo próprio Pepe, que recebe de volta de Pirlo, cruza na área, e a bola sobra para finalização de Quagliarella - a Jabulani passa pelo goleiro Mucha, passa entre Durica e Kucka, e explode em Skrtel, situado com uma parte do corpo dentro de campo e outra dentro do gol. Nenhuma câmera detectou se a bola rebateu acima ou abaixo do joelho do zagueiro, ficando difícil afirmar se teria entrado completamente. O fato é que o jogo seguiu e ninguém reclamou - a mim também pareceu que a bola não entrou.
Após esse lance de quase-gol, a Eslováquia emplacou bonita jogada aos 23 minutos: Hamsik recebeu próximo da linha que divide o campo e abriu na esquerda para Stoch, que avançou e chutou à esquerda. Com 25 minutos, chance lá e cá: em contra-ataque eslovaco, Strba tenta o passe e é interceptado por Chiellini. Iaquinta recebe na esquerda, cruza e Mucha tira da área espalmando. Na marca de 27 minutos, Hamsik cobra escanteio pelo lado direito, a defesa italiana rebate e a bola retorna para Hamsik: o camisa 17 pega de primeira e coloca em altura baixa na área, Vittek se antecipa à Chiellini e pega também de primeira, no contrapé de Marchetti - belo gol e 2a0 Eslováquia.
Atuando com o sentimento de desespero cada vez mais intenso, a Itália ia ao ataque aos 29 minutos: Di Natale recebe e abre na direita com Pepe, que cruza rasteiro e Peter Pekaríc afasta. Aos 30', Pepe deixa o desespero desprovê-lo de juízo e agride Stoch com entrada violenta e antidesportiva - Webb foi ainda mais antidesportivo ao punir o agressor com um simples cartão amarelo.
35 minutos no cronômetro: Hamsik tabela com Stoch, que levanta na área e Chiellini afasta. Estava iniciado o contra-ataque italiano. Pepe passa para Quagliarella, que dribla dois e passa para Iaquinta. Eis que o camisa 9 devolve de primeira com lindo toque de letra e a bola é chutada por Quagliarella para defesa de Mucha: no rebote, Di Natale confere e manda pra dentro. O desespero volta ao estágio de drama.
Aos 39', Skrtel afasta mal de cabeça, Di Natale recolhe na esquerda e centra na área para Quagliarella finalizar pra rede. Lance difícil, mas o auxiliar acertou ao levantar a bandeira denunciando impedimento.
Weiss realizou a primeira substituição aos 41 minutos: o valente, incansável e enfaixado Strba deu lugar, agora sim, a Kopúnek. Vamos ser mais precisos quanto ao relógio: Kopúnek entrou em campo com aproximadamente 41 minutos e 20 segundos.
Aos 42', Pepe cruza da direita e Mucha salta para socar, tirando a um só tempo a bola do alcance de Iaquinta e evitando que pudesse chegar em Di Natale.
No minuto seguinte, arremesso lateral para a Eslováquia. A bola é jogada para corrida de Kopúnek, que alcança, chegando antes de Marchetti e mandando a redonda para o gol, fazendo 3a1. Vamos ser mais precisos quanto ao relógio: Kopúnek tocou na bola com aproximadamente 43 minutos e 10 segundos. Nem 2 minutos em campo, um toque na Jabulani, predestinado. Entraria no primeiro tempo, mas a perseverança de Strba adiou a troca para o momento que o destino traçou.
Mas os italianos queriam um destino diferente ao que a sorte lhe oferecia e foi ao ataque buscar um milagre. Um não, dois. Aos 46 minutos, De Rossi chuta ao gol, a bola volta e o camisa 6 dá de carrinho para Quagliarella que, de forma genial, encobre Mucha com um categórico toque na bola. Golaço. Era o primeiro milagre, faltava mais um e o tempo corria contra a Itália.
Aos 47', segunda substituição na Eslováquia: Vittek, em atuação irrepreensível, por Sestak.
Que passe o tempo, era o que desejavam os eslovacos. Então, tome substituição: aos 48', sai Erik Jendrisek para a entrada de Martin Petrás.
Naquele momento terminava o empate sem gol de Paraguai e Nova Zelândia. A Itália estava definitivamente a um gol da redenção. A Eslováquia seguia na sua missão. Naquela altura, a partida de futebol mais se assemelhava a uma peregrinação.
50 minutos do segundo tempo. É a última chance. Chiellini cobra arremesso lateral para o meio da área. Pepe pega a sobra pelo lado esquerdo e chuta do jeito que a bola vem. E a bola vai para fora. Quem também está fora é a Itália.
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