terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Do Congo Para Abu Dhabi: A Zebra Que Vem Quicando

14 de dezembro de 2010 é um dia que entra para a história do futebol africano e mundial: pela primeira vez no Mundial de Clubes da FIFA, uma equipe do continente que sediou a Copa do Mundo deste ano consegue marcar presença na final do torneio intercontinental. Tudo começou com a surpreendente vitória por 1a0 sobre o Pachuca, na fase de quartas-de-final. E quem achou que o passeio da zebra acabaria por ali, não fazia idéia do que ainda estava por vir: o triunfo sobre o Internacional por 2a0 coloca o futebol do Congo na final do Mundial. Tout Puissant Mazembe, muito prazer. Seongnam? Internazionale? Podem vir quente que o Mazembe, no melhor estilo Robert Kidiaba Muteba, já está quicando.

O jogo

O início de partida deve ter levado os telespectadores a imaginarem que a vitória colorada sairia naturalmente: o Internacional tinha mais posse de bola, rondava a área com freqüência e conseguia finalizar ao gol, como em lance aos dez minutos onde o chute de Rafael Sóbis só não entrou porque o goleiro Robert Kidiaba agiu bem para realizar a defesa. Ainda aos dez minutos, o Mazembe respondeu em chute de longa distância: embora a bola tenha ido no meio do gol, o goleiro Renan não teve moleza para evitar que a bomba mandada por Patou Kabangu Mulota explodisse na rede, defendendo em dois tempos.

Se para abrir o placar em jogo de estréia vale qualquer esforço, o Internacional passou a acreditar que o caminho mais simples era através da jogada aérea. Aos 21 minutos, Tinga recebeu passe pelo alto, ajeitou de cabeça para Andrés D'Alessandro e o argentino abriu na direita com Nei: o lateral tratou de fazer cruzamento caprichado pra dentro da área, Tinga chegou antes do goleiro Kidiaba e cabeceou por cima do travessão. A outra grande chance colorada de sair do zero antes do apito de intervalo foi de natureza semelhante: aos 44 minutos, Wilson Matias tocou na direita para Nei e se mandou pro miolo da área para receber ele próprio o cruzamento. A bola foi nele, que com uma bela puxada mandou uma finalização perto da trave, quase marcando um golaço.

As equipes voltaram para o segundo tempo com os mesmos jogadores e a primeira chance foi novamente do clube brasileiro. Em cobrança de falta aos 3 minutos, D'Alessandro tentou encobrir a barreira mas Kabangu saltou no tempo certo para desviar com a cabeça. Se naquele momento Kabangu agiu como defensor, quatro minutos depois ele apareceria no ataque para fazer lindo gol: após bola lançada da esquerda para o centro de ataque, um cabeceio de Narcisse Ekanga Amia para a esquerda ajeitou a redonda para Kabangu. O melhor estava por vir: Kabangu deu uma puxada na bola para evitar a marcação de Índio e Bolívar e, com muita categoria, colocou no canto oposto, mandando um chute no quadrante 10 e abrindo o placar. A transmissão televisiva dividiu atenção na comemoração, sem esquecer de filmar o goleiro Kidiaba e seu festejo singular, literalmente quicando na grande área.
Patou Kabangu, com categoria, chuta cruzado e abre o placar no estádio Mohammed Bin Zayed.

Aos 13 minutos, Kidiaba apareceria novamente na tela, mas dessa vez pelo desempenho enquanto goleiro. Após lançamento vindo do campo de defesa, a marcação do Mazembe desviou para trás e deixou Rafael Sóbis em condição privilegiada: livre dentro da área, o atacante chutou e parou em grande defesa de Kidiaba. No minuto seguinte, Kidiaba defendeu chute rasteiro de Alecsandro, figura pouco acionada na partida.

Com 17 minutos, Celso Roth mandou uma troca dupla de uma só vez: saíram Tinga e Alecsandro para as entradas de Giuliano e Leandro Damião. 2 minutos depois, o Inter conseguiu nova jogada bem trabalhada: no lado esquerdo de ataque, Kléber passou para D'Alessandro que, da linha-de-fundo, cruzou na área e encontrou Rafael Sóbis. O camisa 11 subiu e cabeceou firme, mandando perto do travessão.

Para não dizer que apenas ele, Sóbis, desperdiçava as chances criadas, foi incrível a oportunidade que teve Giuliano aos 23 minutos: o jogador recebeu sem marcação e, já na grande área, chutou cruzado com a parte interna do pé, possibilitando nova grande defesa de Kidiaba. Na marca de 27 minutos, o Inter teve chance em lance de bola parada pelo lado esquerdo (nota: a arbitragem do holandês Bjorn Kuipers errou ao dar toque de mão, pois o que caracteriza a infração é a intenção, que não houve). Na cobrança, Sóbis mandou um toque rasteiro e, a alguns centímetros da marca do pênalti e sem marcação, D'Alessandro finalizou de primeira, mas sem pegar na bola como gostaria, mandando o chute à esquerda da meta.

Aos 30 minutos, Roth, precisando buscar o resultado, fez uma substituição vazia de ousadia, no melhor estilo "seis por meia dúzia", colocando o jovem Oscar no lugar do participativo Rafael Sóbis. Naquela altura do jogo, poderia abrir mão de um dos volantes ou até arriscar algo de diferente, como por exemplo tirar o zagueiro Índio, recuar Pablo Guiñazú para fazer dupla com Bolívar e deixar Wilson Matias como primeiro volante, dessa forma contando com mais peças ofensivas. Mas isso parece muito para Roth.

Com 33 minutos, Nei recebeu, levou a bola pra perna esquerda e chutou perto da trave esquerda. Aos 39 minutos, Lamine N'Dyaie mexeu pela primeira (e única) vez: saiu Patou Kabangu, autor do gol, e entrou Deo Kanda A Mukok. No minuto seguinte, Kidiaba, o goleiro que apareceu no jogo pelas grandes defesas e pela comemoração espalhafatosa, mostrou que seu repertório não tem fim: após realizar nova intervenção, o camisa 1 recolocou a bola em jogo fazendo conexão direta com Alain Kaluyituka Dioko no campo ofensivo. Daí em diante, Kaluyituka cuidou do resto com grande competência, encarando a marcação de Guiñazú e chutando rasteiro na paralela, preciso, perto da trave direita, sem dar chance de defesa para o goleiro Renan. Tome comemoração africana: com o autor do gol, no banco de reservas, nas arquibancadas e, claro, na grande área do Mazembe, onde Kidiaba foi, sem dúvida, o dono do pedaço.
Robert Kidiaba, quicando no gramado, celebra os gols e a classificação do Mazembe: comemoração excêntrica de um dos melhores jogadores em campo.

Enquanto o Internacional permanece em Abu Dhabi com a dor de disputar o 3º lugar no próximo dia 18, na mesma data o continente africano celebrará uma inédita presença na final da competição. Muitos lembrarão de Camarões-1990, Senegal-2002 ou mesmo Gana-2010, seleções presentes na fase de quartas-de-final em Copas do Mundo. Nigéria-1996, ouro olímpico, também merece recordação. Mas penso que o maior feito futebolístico africano até a presente data possa ter acontecido nessa vitória do congolês Mazembe sobre o brasileiro Internacional. Com um detalhe: ainda não acabou.

2 comentários:

  1. rsrsrsrs muito legal o título...Ser, quando desliguei a ligação me lembrei...Você comentou sobre o Borussia, eu vi o time ganahr do Mainz 05 por 2 x 0, depois dá uma olhada lá no meu blog, é a única postagem na categoria campeonato alemão...O time é interessante mesmo. O paraguaio da frente me chamou atenção e o Kagawa é um motorzinho...Sevilla acaba de empatar rs...abraços!

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  2. Muito agradável assistir o jovem e ofensivo time do Borussia Dortmund jogar. Falo mais do jogo na postagem específica da partida, mas deixo aqui registrado que esse japonês Shinji Kagawa é promissor. E tem mais: se o Borussia vencer na próxima rodada pela Bundesliga, ficará estabelecido o novo recorde pontos na história do primeiro turno da competição! Merecia vida longa na Liga Europa, mas jogo que segue.

    Abraços.

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