quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Independente Do Resultado, Parabéns Ao Goiás

90 minutos em Goiânia, onde o Goiás foi mais time por quase a totalidade do tempo. 120 minutos em Avellaneda, onde o Independiente somente conseguiu ser superior nos primeiros 45 minutos. No total, 3 gols para cada lado levaram a decisão para as penalidades máximas. E, com o futebol longe de ser uma ciência exata, os donos da casa - que, esgotados fisicamente e sofrendo forte pressão dos jogadores brasileiros, queriam que o jogo acabasse o quanto antes - acabaram conseguindo o título.

Nessa partida no estádio Libertadores da América, o Esmeraldino foi melhor na parte técnica, na parte tática e até na parte emocional. Muitos defendem a tese de que "pênalti é loteria". Outros sentenciam que aqueles três aspectos supracitados definem o destino da cobrança. Seja lá como for, o fato é que em mais de 210 minutos de duelo, um chute de Felipe na trave foi o que diferenciou o campeão do vice. Longe de querer ser o trombeteiro do apocalipse, apenas acho interessante lembrar aqui o que disse no jogo de ida, quando o Goiás não soube tirar proveito de uma vantagem numérica após a expulsão de Silvera e acabou não ampliando a vantagem de dois gols no estádio Serra Dourada:
Apesar do resultado que animou os torcedores alviverdes, talvez o futebol venha a cobrar um preço na quarta-feira, em Avellaneda. É para isso que torcerão gremistas e/ou botafoguenses, interessados diretos no desfecho da Copa Sul-Americana. Além do Independiente, é claro.
Foi o que aconteceu. Para alegria de gremistas (que disputarão a próxima Libertadores), de flamenguistas (que disputarão a próxima Sul-Americana) e, mais ainda, dos "Rojos", o Independiente é campeão da Copa Sul-Americana 2010.

O jogo

Impulsionado, empurrado, carregado, conduzido e estimulado por uma fantástica torcida que abarrotava as arquibancadas do estádio Libertadores da América, o Independiente passou por cima das próprias limitações técnicas e partiu para o ataque. Quando detinha 63% do tempo de posse de bola, conseguiu abrir o placar aos 18 minutos: em jogada ensaiada em lance de bola parada, Carlos Javier Matheu chutou, Harlei espalmou e Julián Velázquez marcou no rebote.

A resposta esmeraldina foi ligeira: aos 21 minutos, Wellington Saci cruzou da esquerda e Rafael Moura cabeceou no contrapé de Hilario Bernardo Navarro, fazendo lembrar grandes jogadores que dominavam o fundamento, como Dadá Maravilha. 1a1 no placar, para delírio dos torcedores que atravessaram a fronteira e demonstraram um "amor sem divisão e sem distância".

Na marca de 24 minutos, o árbitro colombiano Oscar Ruíz, de longa experiência internacional, acabou afinando diante do estádio lotado: Carlos Matheu agrediu Rafael Moura com uma cotovelada no nariz e Oscar Ruíz mostrou apenas o cartão amarelo.

Dois minutos depois, o desempate do Independiente: Patricio Rodríguez recebeu bola enfiada, Ernando tentou fazer o corte e, num golpe de sorte ou intervenção sobrenatural, a bola bateu em Facundo Parra e foi dormir no fundo do gol de Harlei.

Tal como quando sofreu 1a0, o Goiás conseguiu nova resposta após 3 minutos, mas dessa vez sem o mesmo êxito: a finalização dada por Otacílio Neto foi por cima do gol.

Com 34 minutos, novo gol do Independiente, novo gol de Facundo Parra, novo lance com ares de "forças ocultas": levantamento da esquerda, Parra sobe para dividir com Marcão, a bola praticamente não sai do lugar e o camisa 17, caído no gramado, estica a perna acertando um chute raro, principalmente se tratando de um jogador que encontra-se praticamente deitado, mandando a bola no canto esquerdo.

No minuto seguinte, uma grande defesa de Harlei evitou que o chute de Hernán Daniel Fredes fosse para a rede, o que colocaria o Independiente em vantagem pela primeira vez no duelo de ida-e-volta. Aos 43 minutos, Oscar Ruíz teve nova chance de coibir a violência com um cartão vermelho, mas novamente preferiu ser complacente com o time local: Velázquez foi com o pé acima da linha da bola, atingiu Douglas no tornozelo e recebeu um simples cartão amarelo.

O ritmo intenso da equipe da casa parecia não ter fim: aos 46 minutos, os argentinos encaixaram um contra-ataque em velocidade, Nicolás Alejandro Cabrera recebeu na direita e chutou cruzado, perto da trave direita.

Com tamanha pressão imposta pelo adversário e ainda sofrendo com entradas desleais, o apito de intervalo saiu mais tarde dos que os esmeraldinos gostariam.

No segundo tempo, o Independiente manteve-se disposto a dar continuidade ao abafa visto em quase toda a etapa inicial. A diferença é que, agora, o Goiás se mostrava mais solto e arisco, também se mandando ao campo de ataque. A partida ficou lá e cá, com ambos os times criando oportunidades claras. Numa delas, aos 12 minutos, Otacílio Neto apareceria para marcar o 2º dos goianos, mas o impedimento foi corretamente assinalado: o atacante estava cerca de meio metro adiantado.

Com 17 minutos, Cabrera avançou pela direita e tentou fazer um cruzamento, mas a bola foi fechada, surpreendeu Harlei e quase foi parar dentro do gol. Seria abusar da metafísica, e olha que foi por muito pouco. No minuto seguinte, uma das mais belas jogadas da partida: Rafael Moura recebeu pelo lado esquerdo, driblou Velázquez e Mathieu do jeito que quis e chutou: Hilario Navarro defendeu com a perna, evitando o que seria um golaço do artilheiro da Copa Sul-Americana 2010.

A partir desse momento, o que se via em Avellaneda era um amplo domínio dos visitantes, que acuava os argentinos no campo de defesa e silenciava a até então barulhenta torcida vermelha. Com 27 minutos, Otacílio Neto estufaria a rede adversária mais uma vez, mas, tal como na anterior, o impedimento foi corretamente assinalado. O Goiás ainda teve duas chances de evitar a prorrogação, ambas com Rafael Moura: aos 39 minutos, ele recebeu, fintou a marcação, chutou e Navarro espalmou (Felipe não aproveitou o rebote, cruzando mal a bola); e aos 44 minutos, Marcelo Costa levantou a bola com a cabeça e Rafael Moura foi até ela, mas se atrapalhou com o quique da bola e finalizou na rede externa.

Veio, então, a prorrogação. E o jogo que era dominado pelo Goiás passou a ser uma verdadeira hegemonia do clube brasileiro. O goleiro Navarro, irritado com um sistema defensivo que era totalmente envolvido pelas jogadas adversárias, foi se tornando o principal responsável pelo Independiente seguir na disputa pelo título, com duas intervenções importantes no primeiro tempo. No segundo tempo, a maior chance de gol aconteceu logo com 1 minuto: Rafael Moura escapou de Velázquez, cruzou encobrindo Navarro e Rafael Tolói cabeceou na trave direita. 3 minutos depois, o Goiás teve pela terceira vez uma jogada de gol invalidada: após desvio de Rafael Moura, Marcão estava em condição de impedimento. Daí pro final, os dois acontecimentos que mais chamaram a atenção não foram por jogadas de ataque. Aos 8 minutos, Rafael Moura e Navarro se estranharam e ambos receberam cartão amarelo. Aos 9 minutos, Velázquez caiu no gramado se contorcendo de dor, indo ao máximo de sua resistência física pois tinha ciência de que Antonio Mohamed já fizera as três substituições permitidas. E lá viriam as penalidades máximas.

Harlei acertou o canto três vezes (em duas se antecipando e em uma aguardando o chute). Navarro foi no canto certo em uma oportunidade. Mas não, nenhum dos goleiros conseguiu realizar defesas. Em mais de 210 minutos de duelo, um chute de Felipe na trave foi o que diferenciou o campeão do vice. Coube ao experiente zagueiro Eduardo Nicolás Tuzzio, de 36 anos, realizar a cobrança derradeira e, com um chute no quadrante 10, fazer explodir de emoção uma apreensiva torcida, que vibrava e chorava com a dramática conquista continental, no primeiro triunfo internacional do clube desde 1995.
Eduardo Tuzzio no momento da última cobrança de pênalti, garantindo o título ao Independiente. Abaixo, torcedores festejam no estádio Libertadores da América.

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