Aquela que se apresentava antes da Copa como a mais qualificada geração na história do futebol belga está mostrando que as expectativas em torno de si não são exageradas. Marc Wilmots, maior goleador da Bélgica em Mundiais, treina uma equipe que prima pela consistência tática, se diferencia pela qualidade do elenco e se credencia ao título também pelos talentos individuais que permeiam todos os setores no campo.
Diante da Coréia do Sul, em São Paulo, o empate serviria aos europeus para confirmarem a primeira colocação na chave sem depender de um tropeço argelino diante dos russos. A dedicação sul-coreana e a expulsão de Defour ainda no primeiro tempo tornaram um jogo típico de cumprimento de tabela como um valioso teste em torno de uma seleção que quer fazer história. Bem comportada mesmo em desvantagem numérica - a ponto de sequer parecer que jogava com um homem a menos -, a Bélgica teve sua atuação menos oscilante até agora na Copa. E isso tudo com Kompany e Vermaelen machucados, Alderweireld, Witsel, De Bruyne e Lukaku poupados, e Hazard entrando no final basicamente para participar da festa. Da festa e do feito: pela primeira vez, os belgas terminam uma fase de grupos com três vitórias em três partidas.
Um futebol econômico em beleza, alguns poderão alegar. E esse blogueiro há de concordar: pela quantidade de talentos à disposição do treinador, dá para exigir mais graça na apresentação dos belgas. Só que numa Copa marcada pela competitividade, não há vitória que venha de graça. O 1a0 no Itaquerão foi conquistado com suor. Até porque atuar o segundo tempo inteiro com um jogador a menos aumenta o esforço dos remanescentes no gramado. Vertonghen foi um ótimo exemplo disso: não limitado à tarefa de fechar a defesa pelo lado esquerdo, o zagueiro-lateral surgiu como elemento-surpresa no ataque aos trinta e um minutos na etapa final para aproveitar o rebote de Kim Seung-Jyu e marcar o único gol no jogo.
Mertens mostrou-se como principal elemento ofensivo na ausência de Hazard, conseguindo explorar cada espaço vazio que a ele se apresentava. Faltou apenas conseguir colocar a bola no espaço vazio que chamamos de gol, mas a pontaria do meia napolitano e a atuação do goleiro sul-coreano dificultaram essa empreitada do camisa catorze belga. Foi uma Bélgica que melhorou após a saída de Mertens. E não porque ele tenha jogado mal, mas porque Origi entrou em campo agregando habilidade e velocidade no ataque a ponto de transformar o jogo como um todo. Talvez seja esse o grande trunfo de Wilmots para os jogos eliminatórios, a começar pelas oitavas-de-final diante dos Estados Unidos: Divock Origi.
Sem Origi, a Bélgica perdia para a Argélia na estréia. Após a sua entrada aos doze minutos no segundo tempo, virou o jogo.
Na segunda rodada, belgas e russos empatavam sem gol. Origi foi a campo novamente aos doze minutos no segundo tempo. Resultado: 1a0 Bélgica, gol dele.
Nessa terceira rodada, o crescimento de intensidade da seleção belga após a entrada de Origi por volta dos quinze minutos no segundo tempo foi perceptível. O gol de Vertonghen, conseqüência.
A Coréia do Sul tentou buscar o empate. E se já falamos de tantos jogadores de qualidade na Bélgica, graças aos sul-coreanos podemos agora falar de mais um: Courtois. O ótimo goleiro, menos vazado e campeão espanhol com o Atlético de Madrid, realizou pelo menos duas grandes defesas para assegurar a vitória e os 100% de aproveitamento. A Bélgica, como todo grande time que se preze, começa com um grande goleiro. Tem uma defesa forte. Um meio-campo versátil. Um ataque com boas alternativas. Se Wilmots conseguir transformar o peso da responsabilidade de fazer história no compromisso espontâneo de cada um render o máximo de si em nome da equipe, é possível que a leve seleção belga passe flutuando pelos adversários. E alcance o céu. Quem sabe numa noite estrelada no Rio de Janeiro?
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