domingo, 29 de junho de 2014

Eterno Prestígio, Estima E Honra: Costa Rica Elimina Grécia E Faz História

Recife fechou com chave-de-ouro sua participação na Copa do Mundo 2014. Recebeu duas das maiores surpresas pelas performances na fase de grupos e sediou uma partida dramática, definida somente no desempate por pênaltis. Promovendo lágrimas para todos os lados - as de alegria e alívio contrastando com as de tristeza e decepção -, o encontro entre Costa Rica e Grécia entra para a vasta galeria dos bons jogos nesse Mundial.

Taticamente, duas equipes com formações quase espelhadas. A Costa Rica foi a campo com uma linha de cinco defensores (Gamboa, Duarte, González, Umaña e Díaz), dois volantes (Borges e Tejeda) e um trio de dar gosto de ver jogar: Bryan Ruiz e Bolaños na armação, com Campbell como referência. Sem esquecer, é claro, do ótimo goleiro Keylor Navas. Já a Grécia se apresentou com uma linha de quatro defensores (Torosidis, Manolas, Papastathopoulos e Holebas), dois volantes (Maniatis e Samaris), um armador (o incansável e interminável Karagounis), dois meias mais adiantados (Salpingidis e Christodoulopoulos), além de Samaras como referência. O arqueiro é Karnezis, que assumiu a titularidade durante a Copa.

Leitores mais atentos ficarão em dúvida sobre o termo "formações quase espelhadas", notadamente pela diferença na linha de defesa. É que muitas das vezes os gregos migravam um dos volantes para a zaga (ora Maniatis, ora Samaris), deixando Karagounis próximo ao outro volante (ora Samaris, ora Maniatis). Dessa forma, tínhamos duas formações 5-2-2-1 no gramado. Números são frios, e às vezes não identificam algumas dinâmicas que diferenciam as equipes. Uma delas é que no esquema tático de Fernando Santos, Samaras é mais convidado a recuar do que Campbell na estratégia de Jorge Pinto. Outra é a participação dos laterais: é mais fácil ver os gregos subindo ao ataque com Torosidis e Holebas do que os costarricenses com Gamboa e Díaz. 

O primeiro tempo possibilitou muita disputa territorial e algumas chances de gol. Na maior oportunidade, Holebas cruzou da esquerda e encontrou Salpingidis em ótima condição de abrir o placar. E o camisa catorze grego finalizou bem, com firmeza e colocação. Mas protegendo a baliza da Costa Rica estava Navas, que realizou intervenção sensacional, colocando a canela no rumo da bola para evitar o primeiro gol no jogo. 

No segundo tempo, a dinâmica mudou. As equipes passaram a conseguir imprimir maior velocidade e as chances se multiplicaram. Já aos cinco, Navas encaixou após cabeceio de Samaras. A resposta costarricense foi ligeira e eficiente: aos sete minutos, Bolaños avançou pela esquerda, cruzou rasteiro e a defesa grega assistiu Bryan Ruiz pegar na bola com sua calibrada perna esquerda. A finalização saiu vagarosamente e rasteira, mas sua colocação a centímetros da trave esquerda deixou o goleiro Karnezis estático. Como se fosse um gol em câmera lenta. A Costa Rica abria o placar em Pernambuco!

A nova circunstância do jogo, que passava a ter um time em vantagem no placar, motivou Fernando Santos a mexer na Grécia: aos doze, o português colocou o atacante Mitroglou no lugar de Samaris. Dessa forma, os gregos passavam a jogar com dois atacantes, com Mitroglou na função de nove (número que não por acaso estampa sua camisa) e Samaras saindo mais da área. Era o fim das "formações quase espelhadas". 

A reação de Jorge Pinto foi a de também realizar uma substituição. Só que a motivação não era a de buscar o ataque, mas possivelmente a de preservar um jogador com cartão amarelo: saiu Tejeda e entrou o também meio-campista Cubero. No mesmo minuto, um golpe. Se a mexida do colombiano era pelo medo de ficar com um jogador a menos, a Costa Rica passou a viver um pesadelo: Duarte recebeu o segundo amarelo pessoal e foi expulso de campo pelo árbitro australiano Benjamin Williams. Eram vinte e um minutos no segundo tempo naquele momento. Já aos vinte e quatro, Fernando Santos trouxe mais um atacante para lançar a Grécia de vez ao ataque: Gekas entrou no lugar de Salpingidis.

Sem Salpingidis para armar o jogo grego pelo lado direito e com Christodoulopoulos encontrando forte resistência pelo flanco oposto (Gamboa e depois Acosta, que o substituiu aos trinta e um, foram bastante atuantes para proteger aquele setor na defesa de Costa Rica), a articulação da Grécia parecia precisar passar pelos pés do capitão e camisa dez Karagounis. Sobrecarregado na função, o veterano jogador tinha dificuldades de acionar os três homens de frente. Santos colocou Katsouranis no lugar de Maniatis, agregando experiência ao setor de meio-campo a partir dos trinta e dois minutos. Era sua última alteração por direito. E Jorge Pinto também mexeu pela última vez: cinco minutos depois, tirou Bolaños de campo para colocar Brenes. Dessa forma, a Costa Rica ganhava velocidade para contra-atacar. Só que perdia alguém para, juntamente ao camisa dez Bryan Ruiz, pensar o contra-ataque. E a Costa Rica passou a penar no jogo.

Sem se entregar em momento algum, motivada pela vantagem numérica, pela superioridade física diante de um adversário que começava a explicitar cansaço e possivelmente recordando o feito de buscar a classificação na terceira rodada com um gol no finalzinho, a Grécia proporcionou mais um momento marcante em sua campanha no Brasil. Novamente nos acréscimos (daquela vez diante da Costa do Marfim, dessa diante da Costa Rica), os gregos não deram as costas para o impossível, foram para dentro e encontraram o que tanto queriam: após chute cruzado de Gekas, Navas rebateu e Papastathopoulos mandou de canela para a rede. Era heroísmo à altura da Mitologia Grega! A Grécia empatava a partida de maneira incrível!

Ainda houve tempo para Mitroglou tornar-se mito, mas seu lindo cabeceio foi parado em mais uma defesa espetacular de Navas (automaticamente me fez lembrar Buffon diante de Zidane na final em 2006). Na prorrogação, a superioridade numérica da Grécia em campo - que era de um homem - parecia ter se multiplicado. Na defesa, havia pelo menos três gregos vigiando um Campbell que já não mais conseguia correr. Mal andava o camisa nove. E quando a Costa Rica ousava se lançar ao ataque, via os gregos engolirem-na no contra-ataque, como em lance onde cinco homens de azul avançavam a toda velocidade diante de dois homens de branco. Mas havia também um homem de verde: o goleiro Navas, que impediu que o chute de Christodoulopoulos alcançasse a rede. Outra chance colossal de desempatar o jogo na prorrogação foi novamente grega. E dessa vez caiu nos pés de Mitroglou. Só que a finalização do atacante parou na muralha Navas, que conseguiu um desvio improvável com a parte lateral do corpo. Era ele, Keylor Navas, o maior responsável para o jogo tomar o rumo das penalidades máximas.

Borges e Mitroglou; Bryan Ruiz e Christodoulopoulos; González e Holebas. Cada um a seu jeito cobrou e converteu suas respectivas cobranças. Campbell partiu para a bola e marcou 4a3. Chegou a vez de Gekas. E teve início a tragédia grega: Navas defendeu a cobrança do camisa dezessete da Grécia. Coube a Umaña a cobrança para colocar a Costa Rica pela primeira vez na fase quartas-de-final de um Mundial. Com os olhares fixos na Brazuca, como quem estivesse em estado de hipnose onde o pêndulo era uma bola, o camisa quatro não desperdiçou a chance de fazer história. A Costa Rica avança na Copa, eliminando o terceiro europeu em sua trajetória. A Holanda que se cuide!


P.S.: "Eterno prestígio, estima e honra", que dá o título ao presente texto, é um trecho no hino nacional costarricense.
Conquistaron tus hijos, labriegos sencillos,
Eterno prestigio, estima y honor,
Eterno prestigio, estima y honor.
¡Salve oh tierra gentil!
¡Salve oh madre de amor!
Clique para ver a letra completa do hino nacional da Costa Rica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário