Muitos poderão não dar o devido valor a essa data, mas carrego comigo a nítida impressão de que 23.06.2014 trata-se de um momento na história do futebol que trará influências significativas para os anos que virão. Foi precisamente nesse dia, por volta das 15h, em Curitiba, que se encerrou a participação da seleção espanhola na Copa do Mundo 2014. Uma campanha abreviada pelas derrotas para Holanda e Chile, que causaram surpresa entre os analistas em geral e gerou mal-estar no elenco espanhol em particular. Mas tudo isso deve ser esquecido. Em nome do futebol, que fique registrado cada bom momento que a Espanha proporcionou e ainda proporcionará com a sua filosofia de jogo baseada na posse de bola. O momento é de realizar ajustes já pensando na Eurocopa 2016, mas mais do que isso: pensando na perpetuação de um estilo, o que se dará através de renovações e aperfeiçoamentos. Estilo esse que já se mostrou viável e eficiente. Que é maior do que a cultura do resultado. E que percorreu longas, incríveis e vitoriosas jornadas para ser derrubado com dois tropeços.
O jogo com a Austrália foi marcado por momentos de emoção, como quando David Villa foi substituído e flagrado às lágrimas no banco de reservas - era a despedida de um dos ícones de uma era vitoriosa, cujo ápice foi o título mundial em 2010, quando o camisa sete teve participação destacada. Meus mais respeitosos cumprimentos e gratidão ao Villa por ter jogado nessa Espanha, a qual tive o privilégio de assistir.
O jogo com a Austrália foi marcado por momentos de recordação, pois ver a excelência do desempenho de Andrés Iniesta com a performance igualmente encantadora de Villa fez lembrar dois, quatro, seis anos atrás. Villa distribuiu umas cinco jogadas de efeito só no primeiro tempo. Numa delas, recebeu cruzamento de Juanfran e abriu o placar no Paraná com um golaço de letra. Villa se escreve com cinco letras, digamos que cada uma para um grande lance da fera, que já deixa saudade.
O jogo com a Austrália foi marcado por momentos de reflexão sobre o futuro, o que ficou sugerido ao se ver um jovem da qualidade de Koke desempenhando função em campo muito similar a de um tal Xavi Hernández. Possivelmente seja Koke o sucessor de Xavi na seleção espanhola.
Fernando Torres foi um personagem que juntou quase tudo ao mesmo tempo: trouxe emoção, porque lembrar dele faz lembrarmos de seu companheiro Villa; trouxe recordação, porque vê-lo atuar em grande nível leva a ótimas lembranças de seu auge tanto nos clubes por onde passou quanto pela própria Fúria; e trouxe reflexão sobre o futuro, pois fica aquela dúvida cruel de se o ciclo de El Niño está encerrado ou se ainda seremos agraciados com seu talento por mais alguns anos. O desempenho diante dos australianos é um convite à segunda opção. Sua capacidade técnica, uma intimação.
Foi disparada a melhor atuação da Espanha em solo brasileiro nesse Mundial. Os erros na defesa vistos nas duas rodadas iniciais não se repetiram - a começar pelo seguro goleiro Pepe Reina, que qualificou a saída de bola com os pés. As entradas de Juan Mata, Francesc Fàbregas e David Silva no segundo tempo tornaram a Espanha ainda mais incisiva, sempre com a participação ativa e decisiva do brilhante Iniesta. Foi dele o ótimo passe à la Iniesta para a finalização de Torres à la Torres. Era a Espanha à la Espanha! Após assistência de Fàbregas, Mata fechou o placar. E espero que as portas da seleção espanhola se mantenham abertas para essa proposta. O mesmo público que hoje gritou "eliminado", em provocação hostil, poderá um dia olhar para trás e pensar que poderia ter reagido de maneira diferente quando teve a oportunidade mística e mágica de assistir a Espanha nas arquibancadas de seu país de nascimento numa Copa do Mundo. Se eu estivesse lá no estádio, aplaudiria de pé. Pensar e projetar a Espanha me traz emoção e não tem preço nem nacionalidade essa gratidão. Valeu, Villa! Valeu, Xavi! Valeu, Espanha!
Nenhum comentário:
Postar um comentário