Regra número 1 do manual do amante do futebol: nunca nem jamais subestime um jogo pelo nome dos times que estão em campo (onde lê-se "nome", entender no sentido de "tradição", "fama", "histórico").
Argélia e Coréia do Sul são duas seleções sem qualquer tradição em Copas do Mundo. Quer dizer, a Coréia até conseguiu o feito histórico de chegar às semifinais no Mundial de 2002, quando foi sede ao lado do Japão, e trouxe alguma fama para o futebol asiático no geral e para si em particular.
Para a Copa 2014, sul-coreanos e argelinos vieram sem ser tratados com grande atenção. E o jogo entre eles, conseqüentemente, foi encarado como "mais um" no torneio. Não deveria. Nunca nem jamais deveria. Primeiro, por uma questão de respeito às equipes. Depois, em respeito à regra número 1 do manual do amante do futebol.
Fato é que tivemos no estádio Beira-Rio um jogo interessantíssimo e dos mais dinâmicos de toda a Copa até agora. Com um primeiro tempo pra lá de eficiente, a equipe africana comandada pelo bósnio Vahid Halihodzic criou situações pelo alto, por baixo, em diagonal, fazendo tabela, em jogada individual. O saldo disso foi um placar de 3a0 ainda no primeiro tempo: Islam Slimani, Rafik Halliche e Abdelmoumene Djabou marcaram nas respectivas assistências de Carl Medjani, Djabou e Slimani.
Só que a Coréia apática que rumou para o vestiário foi substituída por uma Coréia determinada na volta do intervalo. Provavelmente a conversa de Hong Myung-Bo com seus jogadores foi assimilada. Gostaria muito de saber o que foi dito para tamanha transformação, e sem ter a mínima noção do teor do diálogo, já fico imaginando como deve ser a tradução de "vergonha na cara" em sul-coreano.
Aos quatro minutos, após lançamento de Ki Sung-Yong, Son Heung-Min dominou com as costas de maneira involuntária (ou, se de propósito, temos um mágico vestindo a camisa nove vermelha), girou bonito para escapar dos três argelinos que o vigiavam e chutou rasteiro, entre as pernas do goleiro M'Bolhi.
A intensidade sul-coreana era tamanha que o jogo já era outro. Só que a Argélia conseguiu chegar ao quarto gol em jogada maravilhosa entre dois jogadores:Yacine Brahimi e Sofiane Feghouli. Aos dezesseis, Feghouli carregou a bola com habilidade, foi criando espaços e tabelou com o companheiro. Após receber a bola de volta, o camisa dez rapidamente enfiou para Brahimi finalizar e reestabelecer a diferença de três gols no placar.
Naquele momento, os 4a1 pareciam decretar a vitória definitivamente. Mas a hipótese do papo do vestiário é séria: a Coréia do Sul não se abateu e continuou com a pegada vista nos minutos iniciais de segundo tempo. Aos vinte e seis, Lee Keun-Ho encontrou Koo Ja-Cheol e o camisa treze encontrou a rede, diminuindo para 4a2. Halihodzic mexeu três vezes na Argélia, talvez não para necessariamente segurar o resultado, mas principalmente para encontrar alguma maneira de fazer seu time jogar mais perto do que jogou nos primeiros quarenta e cinco minutos e sair do sufoco estabelecido pelos adversários. Ghilas, Lacen e Belkalem foram os escolhidos. Mas a Coréia, entre uma alteração e outra do oponente, continuou melhor. E se o 4a2 se manteve até o final, a Argélia tem que agradecer ao goleiro M'Bolhi, que fez pelo menos duas defesas fantásticas para não permitir novas alterações no placar.
A Argélia está a uma vitória da classificação - talvez um empate sirva diante da já classificada Bélgica (caso sul-coreanos e russos empatem, argelinos avançam mesmo em caso de derrota). A Coréia do Sul não pode nem pensar em empatar: precisa vencer a Rússia e torcer pelos belgas diante dos argelinos. Se argelinos e sul-coreanos renderem em seus jogos o que renderam na metade do tempo em que foram superiores um ao outro nessa partida, teremos duas partidas obrigatórias para assistirmos na rodada derradeira no grupo H. Pena que aconteçam ao mesmo tempo.
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