O bom futebol apresentado pela França na fase de grupos demorou para aparecer nas oitavas-de-final. Não saberemos até que ponto isso se deve ao fator psicológico de ser um jogo eliminatório ou de ser a Nigéria uma equipe que encontrou melhores fórmulas que Honduras, Suíça e Equador para medir forças com os franceses. Mas o fato é que, por mais que tenha demorado, o bom futebol da seleção comandada por Didier Deschamps apareceu. Foi em algum momento depois do intervalo no estádio Mané Garrincha, mais precisamente após o minuto 62, quando o técnico capitão de 1998 colocou Griezmann no lugar de Giroud. Apareceu. Poderia ter sido tarde, pois ainda no primeiro tempo os nigerianos tiveram um gol de Emenike anulado por questão de centímetros. Poderia ter sido tarde também porque a França contou com a complacência do árbitro estadunidense Mark Geiger para continuar com onze em campo: a entrada de Matuidi em Onazi, que lesionou o camisa dezessete, era digna de expulsão.
Contudo, com tudo isso salvando a França do que poderia ser um primeiro tempo trágico, houve algo de bom por parte dos Azuis antes do intervalo: em lance onde Pogba tabelou com Valbuena, só não tivemos um dos gols mais bonitos na Copa porque Enyeama realizou uma das mais belas defesas no Mundial. Que goleiraço!
Veio o segundo tempo e cada minuto que avançava no cronômetro parecia dar mais esperanças às Águias. Em lances como o chute firme e rasteiro de Odemwingie, que foi bloqueado em defesa difícil de Lloris, parecia estar sendo construída mais uma surpresa na Copa do Mundo 2014. Até porque o ataque francês era naquele momento inofensivo: Benzema não conseguia dialogar com Giroud, os avanços de Pogba e Matuidi eram bem vigiados por Gabriel (que substituiu Onazi, vítima de Matuidi) e Obi Mikel. A França, talvez pela primeira vez no torneio, vinha se tornando um time previsível.
Foi então que Deschamps teve uma visão. E mudou o jogo numa substituição: Griezmann no lugar de Giroud. Não abriu mão de jogar com três volantes, mesmo quando dois deles pareciam suficientes para conter uma Nigéria onde Musa estava apagado e Moses também pouco rendia no campo de ataque, isolando Emenike e sobrecarregando Odemwingie. Enyeama passou a ser mais exigido, praticando defesas espetaculares, como em lance onde Benzema surgiu cara-a-cara, parou no goleiro e ainda viu Moses afastar praticamente em cima da linha final. Os nigerianos foram também salvos pelo travessão, após chute de longe de Debuchy. Mas, aos trinta e três, não houve salvação: escanteio cobrado pela esquerda, Enyeama não conseguiu afastar e Pogba aproveitou o raro vacilo do goleiro para cabecear na rede.
Com Griezmann bem no jogo, Valbuena sobrando por todos os cantos do campo, Benzema subindo de rendimento ao lado dos companheiros e a vantagem no placar, a França finalmente mostrava algo próximo àquela França dos três jogos anteriores. Stephen Keshi demorou para tomar alguma providência, só mexendo no time aos quarenta e três: Nwofor no lugar de Moses. Era a segunda alteração e ele preferiu não fazer a terceira. Até porque, pouco depois, Valbuena avançou pela direita em liberdade, cruzou rasteiro buscando Griezmann e Yobo, zagueiro nigeriano, fez a tarefa do atacante francês, desviando para a rede. Aí não tem Enyeama que dê jeito. 2a0 França, que avança. Pela frente virá o vencedor de Alemanha e Argélia. Ou seja, teremos ou um encontro de gigantes ou de rivais históricos na geopolítica mundial. Liberdade, igualdade e fraternidade, antes de mais nada.
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