Considerando tudo o que envolve a história da seleção brasileira de futebol (futebol-arte, títulos, Garrincha, Nilton Santos, Didi, Pelé, Zagallo, Rivellino, Tostão, Zizinho, Jairzinho, Manga, Ademir da Guia, Gérson, Leônidas da Silva e tantos outros), ao ver o que acontece com a seleção brasileira (não de hoje, mas de alguns anos para cá), sinto-me no direito e no dever de ser enfático: isto que vemos hoje não é, em essência, a seleção brasileira de futebol. É uma seleção vinculada à Confederação Brasileira de Futebol, que canta o hino nacional, que carrega a flâmula da República Federativa e do Brasil. Mas não é, em essência, a seleção brasileira de futebol.
Não digo isso apenas pelo que foi visto hoje, em Belo Horizonte, diante do Chile. Digo isso analisando o histórico das escolhas e preferências da própria CBF, notadamente na hora de selecionar um treinador. Nossos últimos três foram Dunga, Mano Menezes e Luiz Felipe Scolari. Um sem qualquer experiência (que comprovou-se sem talento nem vocação, mas que dirigiu a seleção em plena Copa de 2010), outro que esbarrou nas próprias convicções (ou falta delas, até hoje não sei ao certo, mas que só foi dispensado após a derrota na final olímpica) e um que não tem condições de sequer ser considerado técnico de futebol, pois o cara não saca necas de tática. Sem esquecer que entre um "trabalho" e outro, houve convite para um tal de Muricy Ramalho. Com esse brevíssimo histórico recente, dá pra ver o nível dos dirigentes...
A seleção brasileira (no nome, não na essência), foi menos que o esboço de um time de futebol no jogo diante dos chilenos. Um jogo onde ficou explícito o que é ter um time com muitos jogadores talentosos - só que sem um plano de jogo - enfrentando um time com alguns jogadores talentos - e com um plano de jogo bem definido. A diferença entre uma geração de bons defensores e meio-campistas (embora carente de atacantes de alto nível) e uma onde possivelmente oito ou nove titulares sequer seriam convocados para a Copa caso tivessem nascido no Brasil. Só que uma comandada por uma pessoa sentada no banco de reservas e outra dirigida por um sujeito que pensa o futebol, que tem estratégias, que tem referências. Imagino que se Jorge Sampaoli fosse técnico da seleção brasileira, poderíamos recuperar muito daquela essência perdida. Perdida não por acaso, mas por escolhas e preferências de uma confederação que mais se preocupa em lucros do que com legados.
Tudo poderia ser diferente se o chute de Pinilla no travessão, nos últimos minutos de prorrogação, tivesse chegado ao gol alguns centímetros abaixo. Era bola na rede e classificação chilena. Classificação de quem mais propôs jogo, de quem mais mostrou alternativas. Mas o destino foi uma disputa de pênaltis, onde brilhou a estrela do goleiro Júlio César e o desfecho foi uma classificação do Brasil após Jara carimbar a trave na quinta cobrança do Chile.
As críticas aqui postas nem são do nível de cobrança ultra-exigentes. Pelo contrário: são do básico no futebol. Fazer tabelas, triangulações, infiltrações, alternâncias. E não que tenha que ter a execução perfeita, mas pelo menos haver a tentativa. Não houve nada disso. Foi difícil ver o "time" trocar meia dúzia de passes no campo de ataque. O oposto do Chile, que avançava de maneira a dar opções para quem detinha a posse de bola, sempre podendo buscar uma ou outra jogada para dar seqüência ao lance. Às vezes acertando, às vezes errando, mas sempre tentando.
No final das contas, o Brasil ficou com a vaga nas quartas-de-final. Mas o Chile ficou com o meu respeito pela Copa do Mundo que fez no Brasil. Teriam representado muito bem um uniforme de camisa amarela, calção branco e meias azuis, com cinco estrelas acima do escudo. Valeu, Sampaoli! Sorte para ti e para La Roja! Que venha a Copa América!
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