Ficou em boas mãos o título estadual de Minas Gerais 2011. Detentor de uma campanha vitoriosa - recheada de goleadas - e exibidor de um futebol elogiado dentro e fora do território mineiro, o Cruzeiro Esporte Clube sagrou-se campeão estadual pela 36ª vez na história após vencer o Atlético por 2a0 num estádio Arena do Jacaré absolutamente tomado pela torcida cruzeirense. O merecido triunfo dá um certo alívio na dor pela surpreendente
eliminação na fase oitavas-de-final da Copa Libertadores e renova as esperanças para o que pode ser um ótimo Campeonato Brasileiro aos comandados de Cuca, atuais vice-campeões da competição.
O jogoAbrindo mão de laterais de origem e escalando um time com boa saída de bola, Cuca convidou sua equipe a fazer aquilo que é marca registrada desse excelente técnico: atacar o adversário. Mesmo desfalcado pelo suspenso Montillo (expulso de maneira polêmica no jogo de ida), o setor de criação cruzeirense dava conta do recado com as boas participações de Gilberto e Roger, além das movimentações de Wallyson e Thiago Ribeiro, fomando um quarteto ofensivo que por diversas vezes envolveu a defesa atleticana. Serve de exemplo um lance aos dois minutos de partida: Gil recuperou a posse de bola e iniciou o contra-ataque tocando para Gilberto. O jogador passou para Thiago Ribeiro, que deu para Wallyson. Na disputa no interior da área, Wallyson caiu e a bola foi recolhida por Thiago Ribeiro, que cruzou da esquerda mas ninguém surgiu para completar. Faltou citar o nome de Roger, né? Aos 22 minutos, Thiago Ribeiro alçou a bola da direita, Serginho não fez a interceptação, Roger acreditou no lance e completou, mas o goleiro Renan Ribeiro estava ligado e praticou a defesa.
A boa partida que faziam os "donos da casa" (entre aspas porque o campo em Sete Lagoas é de uso de ambos os clubes, mas nessa segunda partida decisiva o público de 17.384 pagantes era inteiramente alvi-celeste) era também por méritos defensivos, já que Leandro Guerreiro, Victorino e Gil conseguiam levar vantagem em grande parte dos lances em que eram exigidos. Este último merece destaque por uma participação aos 32 minutos, quando travou o atacante Magno Alves no momento exato para evitar que o remate seguisse em direção ao gol, comemorando a intervenção em favor de sua equipe. As escapadas do Atlético eram, basicamente, na velocidade de contra-ataques buscando Magno Alves, que ficava no limite da linha de impedimento e causava dificuldades ao auxiliar encarregado de acompanhar essas investidas atleticanas (inclusive cometendo pelo menos um erro ao marcar uma posição irregular quando esta era legal).
Dominado pelo adversário, Dorival Júnior decidiu trazer o Atlético modificado para o segundo tempo e realizou duas trocas de jogadores no intervalo: Renan Oliveira por Cláudio Leleu (que deu novo ânimo ao ataque alvinegro) e Mancini (inoperante e explicitando nervosismo) por Richarlyson. O Cruzeiro de Cuca retornou idêntico e seguia buscando o gol necessário para o título mineiro. Aos 11 minutos, Thiago Ribeiro rolou achando Roger na área e o meia chutou cruzado, mandando pertinho da trave direita. E com 13 minutos Dorival já gastaria sua última substituição: Guilherme Santos por Bernard.
Quando o relógio apontava 18 minutos no segundo tempo, o Cruzeiro, que já era ofensivo, ganhou mais um atacante com a entrada de André Dias no lugar de Éverton. Porém, quem levaria grande perigo seria o Galo: aos 21', Leandro Guerreiro presenteou Magno Alves ao sair jogando com um passe errado, o atacante avançou, chutou e Fábio conseguiu chegar na bola para defender, com dificuldades. Aos 24 minutos, André Dias teve grande chance de abrir o placar: recebeu de Thiago Ribeiro e chutou, mas sendo abafado pelo goleiro Renan Ribeiro. Por falar em goleiro, no minuto seguinte o cruzeirense Fábio teve participação sensacional: deixou a área para atuar como um líbero e não apenas fez a intervenção providencial como ainda driblou um adversário antes de sair jogando com a maior naturalidade.
Aos 27 minutos, Fabrício foi colocado no lugar de Henrique para aquela que era a segunda substituição de Cuca no jogo. O 0a0 não interessava ao Cruzeiro e por muito pouco a situação não ficou ainda pior para a Raposa: aos 28 minutos, Magno Alves foi novamente acionado numa daquelas enfiadas de bola entre os defensores cruzeirenses. Em posição legal e totalmente livre de marcação, Magno avançou, ficou de frente com Fábio, preparou o corte pro lado direito e... o goleiro cruzeirense agiu espetacularmente para desarmar o atacante com um tapa na bola. Anotem, naquele momento o Cruzeiro fazia 1a0 sem saber.
Então, na marca de 30 minutos no segundo tempo em Sete Lagoas, o placar foi finalmente inaugurado. Inaugurado pelo time que mais buscava o ataque. Inaugurado por um jogador que buscava o jogo e não poupava esforços de atuar pelo coletivo. Inaugurado pelo Cruzeiro. Inaugurado por Wallyson. Inaugurado em jogada onde o atacante recebeu pelo lado esquerdo, encarando e ao mesmo tempo escapando da marcação de Serginho até chutar rasteiro, na paralela, colocando a bola no canto direito. Estava inaugurada uma festa generalizada nas arquibancadas.
Com 33 minutos, Cuca realizou a última mexida: saiu Roger, que deixou o campo celebrando com companheiros e torcedores, e entrou o zagueiro Léo. O Cruzeiro recuava, certo? Errado. O Cruzeiro seguia buscando atacar o adversário. Aos 35 minutos, Wallyson só não marcou o 2º gol em chute firme e no alto pelo lado direito porque Renan Ribeiro fez grande defesa para escanteio. Aos 36 foi a vez de Leandro Guerreiro se apresentar no ataque e, perto da linha-de-fundo pelo lado direito, chutar ao gol e parar em nova espalmada de Renan.
Dos 40 minutos até o início dos acréscimos do áribtro Wilson Luiz Seneme, problemas na transmissão do sinal fizeram com que esse blogueiro ficasse sem notícias do que acontecia dentro das quatro linhas. Triste, né? Mas quem estava feliz da vida era o torcedor cruzeirense, principalmente o que acompanhava o jogo sem ser pelo PFC: é que, nesse meio-tempo, Gilberto cobraria falta para fazer 2a0 e decretar o título estadual. Foi aguardar o apito final (além, é claro, da volta do sinal) e ver a massa cruzeirense festejando o caneco. Antes disso, Roger ainda aprontou mais uma de suas estripulias: resolveu deixar o banco de suplentes e, com a camisa amarrada em punho e sacodida acima da cabeça, deu uma "volta olímpica antecipada" para festejar com a eufórica torcida que lotava as arquibancadas. Tudo bem, Roger. Dessa vez a sua conduta e a conseqüente expulsão não prejudicaram a equipe...
Elenco celebra erguendo o técnico Cuca às alturas: melhor futebol do Brasil conquista merecido título estadual e ratifica o grande trabalho do comandante.