No papel, dois elencos que contam com jogadores de qualidade (de um lado, atletas como Didier Zokora, Frederic Kanouté e Luís Fabiano; de outro, nomes como os de Nuri Sahin, Lucas Barrios e Shinji Kagawa). Na temporada, situações antagônicas (o Sevilla, 11º na Liga Espanhola, vindo de 5 derrotas consecutivas; o Borussia Dortmund, líder na Bundesliga, vindo de 7 triunfos em seqüência). No campo, o entendimento das razões para isso ocorrer: enquanto o Sevilla buscava a interrupção da partida a todo momento, mantendo-se a maior parte do tempo concentrado no campo de defesa e retardando a reposição da bola em jogo, o Dortmund tentava chegar ao ataque fazendo circular a bola de pé em pé, às vezes envolvendo o adversário, às vezes sendo parado por marcações de impedimento ou entradas faltosas, mas raramente dando a bola de graça para o oponente. No resultado final, a festa do anti-jogo: com o empate por 2a2 no estádio Ramón Sánchez Pizjuán, o clube espanhol avança na Liga Europa enquanto o Borussia fica pelo caminho, focando o restante da temporada exclusivamente no cenário doméstico.
O jogoSem tomar conhecimento do fator campo e da barulhenta torcida local, o clube alemão foi ao ataque desde o início na busca pelo único resultado que o interessava: a vitória. E a recompensa pela postura ofensiva e o bom toque de bola apresentado pelos comandados de Jürgen Klopp não tardou a vir: aos 3 minutos, Mario Götze tocou na passagem de Marcel Schmelzer pelo flanco esquerdo e de lá veio cruzamento pra área. O zagueiro francês Julien Escudé tentou afastar o perigo, mas seu toque com o calcanhar acabou encontrando o japonês Shinji Kagawa, que dominou com o pé esquerdo, ajeitou e chutou com a perna direita - a bola ainda foi desviada antes de rumar para o canto esquerdo de Andrés Palop Cervera, que fez um estranho golpe de vista.
Aos 10 e também aos 13 minutos o Dortmund deu novas demonstrações de boa distribuição de passes, mas as enfiadas que nessas duas situações buscavam o paraguaio Lucas Barrios infiltrado no meio da defesa adversária foram paradas em marcações de impedimento, no mínimo, duvidosas. Entre um lance e outro houve tempo para apanhar: aos 12 minutos, o francês Abdoulay Konko foi direto no corpo de Götze, derrubando o alemão pela segunda vez no jogo. O árbitro russo Alexey Nikolaev limitou-se a marcar a falta, sem mostrar qualquer cartão ao agressor.
Com 14 minutos, finalmente o Sevilla conseguiu criar algo de interessante: após lançamento pra dentro da área, duas escoradas de cabeça levaram a bola até o marfinense Christian Romaric, que finalizou cara-a-cara com o goleiro Roman Weidenfeller, vendo-o realizar defesa sensacional.
Romaric é um apelido dado ao meio-campista de 27 anos quando atuava na base do Asec Mimosas e era treinado pelo brasileiro Joel Carlos. Batizado Christian N'Dri Koffi, o "Romaric" foi-lhe alcunhado em referência ao lendário atacante Romário (Joel o achava de uma marra similar a do "Baixinho"). E, provando que o apelido não veio à toa, aos 23 minutos o camisa 6 do Sevilla deu entrada dura num adversário e recebeu cartão amarelo - em vez de aceitar a punição que lhe coube, ficou gesticulando para o árbitro e mostrando o dedo indicador, como se fosse proibido dar cartão a um jogador na suposta primeira falta cometida por ele. Porém, na marca de 30 minutos, Romaric mostraria uma outra faceta que conhecemos em Romário: o oportunismo. Após levantamento realizado pelo malinês Frederic Kanouté próximo à quina direita da área, nem o brasileiro Luís Fabiano conseguiu dominar com o peito e nem o polonês Lukasz Piszcsek conseguiu afastar o perigo dali: Romaric tratou de esticar a perna esquerda e mandar a bola pro fundo do gol de Weidenfeller.
O empate já servia ao Sevilla, mas, empurrado pela torcida, o time foi ao ataque querendo mais. E, logo na investida seguinte, saiu a virada: aos 34 minutos, o argentino Diego Perotti caprichou no levantamento a partir do setor esquerdo e Kanouté caprichou mais ainda no cabeceio, mandando no canto esquerdo de Weidenfeller.
Seis minutos depois, Kanouté sentiu o que parecia ser uma lesão muscular e precisava ser substituído. Mesmo contando com o atacante Álvaro Negredo Sánchez no banco de suplentes, o treinador Gregorio Manzano optou por colocar o brasileiro Renato, deixando apenas Luís Fabiano mais à frente. Renato herdou, além da vaga deixada por Kanouté, a braçadeira de capitão que estava com o malinês.
Na volta do intervalo, o Dortmund voltou a tomar as rédeas da partida e partiu pra cima dos donos da casa. E o gol de empate não tardou a acontecer: aos 3 minutos, um escanteio bem cobrado pelo lado direito encontrou, na altura da linha da pequena área, a cabeça do bósnio Neven Subotic, que direcionou a redonda pro canto direito sem dar chance de defesa à Palop, que dessa vez não deve ser criticado por fazer novo golpe de vista.
Se no primeiro tempo, vencendo a partida, houve uma mexida onde saiu um atacante para a entrada de um meio-campista, Manzano seguiu sua empreitada defensivista na etapa complementar: aos 15 minutos, com o jogo empatado, saiu o meia Perotti, autor da assistência para o gol de Kanouté, para a entrada do lateral uruguaio José Martín Cáceres.
Se o Sevilla se fechava com uma troca sul-americana, o Dortmund mostrava-se disposto a atacar e preparou uma mexida polonesa aos 22 minutos: saiu o meio-campista Jakub Blaszczykowski (vulgo Tuga) para a entrada do atacante Robert Lewandowski.
E a partida seguia com a mesma tônica: o Borussia Dortmund buscando a classificação que só viria com a virada e o Sevilla, sem mostrar habilidade para contra-atacar (praticamente não tinha peças para isso), basicamente se defendia e retardava ao máximo o andamento do jogo. As mexidas seguintes acentuaram o cenário: aos 32 minutos, Klopp trocou as coisas no meio colocando o brasileiro Antônio da Silva no lugar de Sven Bender; aos 40 minutos, Manzano tirou Romaric para pôr o zagueiro uruguaio Federico Julián Fazio.
A legião de sul-americanos (naquele momento representada por dois brasileiros e dois uruguaios) parecia contagiar o Sevilla com um espírito de Copa Libertadores da América. Jogar bola ficou para segundo plano e o foco do time da casa era retardar o andamento do jogo, fazendo a famigerada cera sempre que houvesse possibilidade. E as possibilidades brotavam: Palop era lento para cobrar qualquer que fosse o tiro-de-meta, jogadores caíam e, enquanto o cronômetro corria, a bola parava.
Com 41 minutos, quase veio o castigo: após bola invertida do lado direito de ataque para o esquerdo, Palop saiu do gol mas não evitou o cabeceio de Schmelzer, que passou pelo goleiro mas foi afastado por um zagueiro que estava "na cobertura". Foi a última participação de Schmelzer, que no minuto seguinte deu lugar a mais um atacante, o francês Damien Le Tallec.
Se já era indecente o retardamento do Sevilla em fazer a bola rolar, entre os 43 e os 45 minutos foi nojenta a postura do time da casa que, através do marfinense Didier Zokora, conseguiu demorar dois minutos para efetuar uma simples cobrança de falta. Os 5 minutos indicados como acréscimo passaram longe de dar conta de tamanhas paralisações propositais, servindo basicamente para premiar o goleiro Palop com um cartão amarelo. Precisa dizer o motivo?
Outros resultados (grupos definidos)Grupo D: Dínamo Zagreb (3º) 0a1 (2º) PAOK; e Club Brugge (4º) 1a2 (1º) Villarreal;
Grupo E: AZ (3º) 3a0 (2º) BATE; e Dínamo de Kiev (1º) 0a0 (4º) Sheriff;
Grupo F: Sparta Praga (2º) 1a1 (1º) CSKA Moscou; e Lausanne (4º) 0a1 (3º) Palermo;
Grupo J: Karpaty (4º) 1a1 (1º) Paris Saint-Germain;
Grupo K: Napoli (2º) 1a0 (3º) Steaua Bucareste; e Liverpool (1º) 0a0 (4º) Utrecht;
Grupo L: Besiktas (2º) 2a0 (4º) Rapid Viena; Porto (1º) 3a1 (3º) CSKA Sofia.
Amanhã teremos as definições dos demais grupos. O sorteio com os duelos eliminatórios envolvendo as equipes classificadas está marcado para sexta-feira.